sábado, 27 de fevereiro de 2010

Andares.

Andares.

No segundo andar tudo é mais calmo. O vento é mais fraco. O sol brilha menos. A noite é mais clara.
É dito, é um paraíso. Eu fiquei feliz aqui por algum tempo. Pouco tempo na verdade.
Então comecei a pensar, e o pensar já não era suficiente. Comecei a imaginar e sonhar. Não mais suficiente, eu quis. E o querer é tentador. Então eu desejava e queria saber "Como seria se eu estivesse na "garagem”?

Não resisti às tentações. Cai nas perdições.

Resolvi descer até a garagem. Desci rápido, o elevador parecia não ter freios e caía. E parou no fim de sua linha, abriu a porta e eu saí. Música alta; drogas; e várias outras coisas proibidas na calmaria do segundo andar. Não entendia nada, tudo era confuso. Realmente infernal.
Não havia sol, só havia sombras e essas mesmas pareciam queimar as paredes e tudo que estava lá. De qualquer maneira me diverti. Diverti-me como nunca havia feito. Bebi, dancei, fumei, transei e fiz tudo que não podia ser feito no segundo andar - eu quebrei as regras impostas pela minha pureza.
Fui embora mesmo contra a minha vontade e não me lembro de ter entrado no elevador, na verdade, eu apaguei e não me lembro de muita coisa.

Quando acordei estava no primeiro andar.
Estava de volta.


O primeiro andar: o pior. O mundo dos normais é contra tudo e todos. Tudo é pouco, ninguém nunca está contente com o que tem. Todos são invejosos e querem tudo que o outro tem. Uma bagunça pior que a "garagem". Aqui, as sombras são provocadas pelo brilho do sol que me queima feito um condenado e o vento é terrível. O tempo voa rápido e ninguém tem tempo pra nada. As noites são escuras e perigosas. Confesso que preferia quando estava morto.

Maldito coração que ama e resolveu bater novamente.


Texto originalmente escrito e publicado dia 02 de Outubro de 2009.