Tudo (ou Nada).

-E agora?

-Nada.

-E antes?

-Nunca existiu.

-O que não existiu?

-O antes.

-E o que existe agora?

-Tudo.

-E o nada de antes?

-O antes nunca existiu, já disse.

-E depois?

-Depois tudo acaba.

Me Encontra?

-Hey! Faz um tempo que não te vejo!

-Desde quando tu pediu pra não te procurar mais...

-Parace que você fez isso muito bem.

-Na verdade, não.

-Não? Tu me procurou?

-Sim, sempre.

-Onde?

-Vários lugares. Nunca te achei.

-Acho que me escondi bem, então.

-Nem tanto.

-Tu nunca me achou.

-Acho que eu nunca te perdi.

-Eu me perdi?

-Provavelmente.

-Onde?

-Em si.

-Me encontra?

-Não dá.

-Por que?

-Porque eu não te perdi.

-Eu te perdi?

-A gente se perdeu.

-Deixa eu te encontrar?

-Eu continuo aqui.

Vem Comigo?

-Há quanto tempo estamos aqui?

-Tempo suficiente para irmos embora.

-Eu não quero ir embora.

-Tudo bem, vou sozinha.

-Eu não quero ficar sozinho.

-Então vá embora.

-Não quero te deixar sozinha.

-Tu já me deixou.

...

-Vem comigo?

Agora.

-Fica? Por mim!

-Não sei, tu já me pediu pra ir embora.

-Agora estou pedindo pra voltar; não deveria ter falado pra você ir embora.

-Eu nunca quis ir embora...

-Então volta - e fica!

-Não sei se quero voltar agora.

-Não precisa ser agora, mas volta.

-Por que tu não vens comigo?

-Pra onde?

-Pra qualquer lugar.

-Quando?

-Agora.

-Não sei se quero ir...

-Tudo bem, fica!

Volta Logo.

-Você vai voltar?

-Mas é tu quem está indo embora.

-Então, adeus.

-Volta logo; Sinto sua falta quando você não está perto.

-Me espera, eu volto amanhã.

Confiança.

-Acredita em mim?

-Não sei se posso; não sei se consigo.

-Você pode, é só querer tentar.

-Eu quero e tento.

-Então acredita em mim!

-Eu não consigo...

-Por que não?

-Porque não sei o quanto disso é real.

-Isso vai se tornar real se você acreditar que é real.

-E se não acreditar? E se isso for uma ilusão?

-Então tu estarás te iludindo.

-E se for você quem está me iludindo?

-Não estou. Apenas quero que tu confies em mim.

-Você confia em mim?

-Não sei mais.

-Não sabe? Por quê?

-Porque eu posso estar te iludindo.

-Não está, confia em mim.

**

22/03/2010.

Adeus.

-Lembrei de você ontem.

-Só ontem?

-Lembro de você todo dia, mas ontem foi diferente.

-Do que tu lembrou?

-De nós dois, juntos.

-Não tinha lembrado apenas de mim?

-Você era parte de nós dois.

-Nós dois... Do que tu lembrou, exatamente?

-De quando tu foi embora...

-Tu te lembras que você se virou?

-Não queria sofrer vendo você indo embora.

-Eu sofri tendo que dizer tchau ao vento...

-Eu escutei...

-... mas não respondeu.

-Não consegui.

-Fiquei esperando por uma resposta.

-Agora eu tenho uma resposta.

-Agora eu não tenho nenhuma pergunta.

-Mesmo assim, me escuta?

-Melhor não. Vou embora, amanhã.

-Vou dizer tchau dessa vez, prometo.

-Tanto faz. Eu vou dizer "adeus".

Tarde.

-Por que agora?

-Porque depois pode ser tarde demais.

-Agora já é tarde demais.

-Já tava dormindo?

-Ainda não. Só não esperava por você.

-Cheguei tarde?

-Não. Você foi embora muito cedo.

-E você fechou a porta?

-Não. Eu mudei de lugar.

-Mas você continua o mesmo...

-Mas espero que você tenha mudado...

-Eu não sei se mudei.

-Então ainda é tarde.

-Já vai dormir?

-Nunca acordei. Boa Noite, vou desligar.

Nuvens.

-E naquela? O que você vê?

-Não sei, é complicada.

-Como assim? Eu vejo um coelho...

-Eu vejo o que eu não gosto.

-Você não gosta de coelhos?

-Me lembram a páscoa.

-E qual o problema da páscoa?

-A páscoa não é o problema. É a lembrança que ela traz.

-E qual é?

-Não sei. Esqueci.

A Flor.

-Pega, é pra você.

-Tu sabe que isso vai morrer.

-Eu sei... Mas cuida disso enquanto ainda vive.

-Não vou conseguir sozinha... preciso da tua ajuda.

-Você nunca precisou de mim. Só precisava de alguém.

-Esse alguém é tu...

-Não mais.

-Pode ser de novo.

-Eu não quero.

-E o que tu quer?

-Que você cuide disso.

-E se eu não quiser?

-Deixa morrer.

Decisões e Arrependimentos

-O que tu decidiste?

-Nada.

-Isso não é uma decisão.

-Claro que é. Decidi que vou fazer nada.

-Mas tu tem que decidir alguma coisa; Tu tens que fazer alguma coisa!

-Não. Você quer que eu decida ou faça algo porque você não tem coragem para tomar decisões.

-Eu tenho coragem sim para tomar decisões. Mas tenho medo de me arrepender das minhas decisões.

-Mas você pode voltar atrás se te arrepender...

-Tu voltaria?

-Você vai se arrepender?

Cantada Barata - Parte 2

Ela parada em frente à porta.
Ele parado ao lado dela.

-Me liga amanhã?

-Claro que sim.

-Como? Você nem tem meu número?

-Mas eu tenho teu nome...

-Existem tantas com meu nome. E você não sabe meu sobrenome pra procurar na lista...

-Tem razão. Então não ligo.

...

-Eu queria que você ligasse.

-Mas eu não tenho teu número, nem sei teu sobrenome pra procurar na lista.

-Você sabe onde eu moro.

-Amanhã tua campainha vai tocar. Atenda a porta.

Real.mente

Eu sabia que eu estava mentindo.

O importante era você não descobrir a verdade.

Eu devo ser um bom mentiroso; Por algum tempo até eu acreditava em mim.

E se eu começava a achar que era verdade, então é porque poderia ser possível.

Vamos tornar isso real?


***

Conversas com espelhos.
14/03/2010.

Cantada Barata.

Ela sentada e lendo no banco da praça.
Ele andando e procurando alguém.

-Oi. Posso fazer uma pergunta?

-Você quer dizer, outra pergunta?

-Isso, outra pergunta. Posso?

-Você fez de novo..

-Desculpa, não consigo evitar. Vou perguntar mesmo sem saber se posso.

-E se eu não responder...

-Tu vem sempre aqui?

-Hey! Tanta conversa para uma cantada barata?

-Não, não... Tu está entendendo errado. Não estou te cantando.

-Não? Então pra quê a pergunta?

-Ontem estive aqui com alguém, e esse alguém falou para voltar aqui hoje que eu me apaixonaria. Mas, esse alguém não apareceu. Se tu vem sempre aqui, quem sabe possa conhecer..

-Sinto dizer, mas não venho. É a primeira vez e quem sabe a última.

-A última?

-Sim. Procurava um lugar calmo, mas acho que aqui não é o lugar certo para ler.

-Nem para se apaixonar, eu suponho.

...

-Era isso mesmo que você queria?

-De certa forma, sim. Sairíamos para algum lugar depois, mas sozinho...

-E para que lugar iria?

-Não sei, não tive tempo para pensar nisso ainda, mas não importa mais.

-E agora, vai pra onde?

-Não sei, e tu vais?

-Lugar nenhum.

-Poderíamos ir junto.

-Aonde?

-Qualquer lugar calmo para ler...

-... Ou para se apaixonar.

-Eu acho que este foi um bom lugar para se apaixonar.